Textos em SMS

Era uma vez um intervalo, seu nome era Quinta Justa e sempre teve tudo do bom e do melhor desde que soou pela primeira vez. Estava nos mais sublimes acordes, nas mais renomadas peças e estudos. Mas, em um dia tão comum quanto hoje, algo ocorreu. Não se sabe ao certo a causa, talvez um ataque errado por parte do trombonista ou um dedo raio de algum violista, mas ele acabou perdendo um semitom. E isso foi uma bomba na vida do pobre intervalo, renasceu o seu mais intrínseco medo: se tornara agora o diabo em som, por tantos séculos seria repudiado por todos. Transformara-se na Quarta Aumentada! Como seguiria em uma vida de rejeição, sendo renegado por todos, de virtuoses a maestros? Tentou se jogar do alto da harpa, ser esmagado pela tuba. Em vão. Sendo praticamente criminalizado por suas duas famílias (quartas e quintas), começou a beber. Passava a tarde e a noite agarrado à sua garrafa litral de Jureminha. Se isolou de todos os outros, da musica, da sociedade. Alguns séculos depois, precedido de tantas reformas (políticas, econômicas, sociais e principalmente religiosas), perceberam o quanto foi errado o pré-julgamento do pobre intervalo, só por suas características sonoras peculiares, e a esfera musical mundial acabou por achar mais do que justo prestar-lhe uma homenagem, contudo reconhecimento póstumo não é lá muito agradável ao homenageado.




"Esse intervalo de três tons, o Trítono, como entre fá e si, em efeito inverso ao da oitava, enquanto a oitava é estável, o trítono é instável, baseado na relação 32/45 pulsos melódicos (Wisnik, 1999, p. 82, 83) e tal corte separa, divide, desune, dissolve, o solve da alquimia, a função do diabolus. Por tal efeito psíquico o trítono é proibido no canto gregoriano como o símbolo da dissonância, do desacordo, da discordância e rebelião, sendo censurado, calado, evitado, omitido, esquecido a força, negado, reprimido, ausente –
in absentia.
"

5 comentários:

Amanda Oliveira disse...

Lheo, li esse texto ouvindo teu sotaque! Enfim, adorei! :O

Kriscieli disse...

Ah!que sem graça, já tinha lido:D.
Aliás "litral de Jureminha",ótimo hehehehe
x*

Anônimo disse...

poema musical!
tinha que ter a jureminha né? isso me lembra 'cana maré'!

;**

Um israel ai disse...

aha, corri pro piano pra tocar um improviso com o diabolos.

magno disse...

Só uma nota, é dedo raio (de violista) não "dedo trovão", é o raio que não cai duas vezes no mesmo lugar.

Outra coisa: já notou como ele é particularmente bem recebido na musica contemporânea? Até sendo usado pra citar a Santa Madre de Deus (!) em Maria de Gerswin, do musical cujo nome eu não lembro nem a pau agora.

Que a Força esteja com você, jovem padawan.